Vivendo no limite

Imagine como é viver entre a realidade e um mundo à parte. Trabalhar ou estudar, mas colocar tudo por água abaixo em instantes, devido a ataques incontroláveis de raiva. Apaixonar-se em segundos e perder o encanto em questão de dias. Considerar apenas o bom e o mau, sem conseguir ponderar as situações. Chegar ao limite da dor emocional a ponto de fazer cortes em si mesmo ou até tentar o suicídio para aplacar o sofrimento de ser incompreendido.

Essa é uma pequena descrição das características de uma pessoa que sofre do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), também chamado de Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL). O portador não é psicótico, nem neurótico, mas tem traços das duas condições. Por isso, é como se vivesse entre a loucura e a normalidade. Vive fortes emoções, é instável, tenso, tem medo de ser rejeitado, é impulsivo, facilmente irritável, tem ataques de raiva, ciumento, descontrolado e frustra-se com facilidade quando contrariado.

 

Em detalhe

Personalidade é o conjunto de comportamentos que expressam o estilo de vida e a maneira de se relacionar de uma pessoa, consigo mesma e com os outros, dentro de um contexto social. Seu jeito de ser, ou seja, aquilo que nos faz diferentes uns dos outros. O transtorno de personalidade ocorre quando as interações interpessoais saem do padrão esperado e afetam a os relacionamentos, o trabalho, os estudos e a vida em geral.

 

Causas

A causa específica ainda não foi totalmente esclarecida. A doença geralmente aparece na juventude, por volta dos 20 anos de idade. O transtorno é 5 vezes mais frequente entre parentes biológicos em primeiro grau do que na população em geral e atinge 3 vezes mais mulheres do que homens. A prevalência da doença é de aproximadamente 2% da população em geral. Estima-se que 20% das internações psiquiátricas e 10% dos atendimentos nos ambulatórios de psiquiatria são de pacientes portadores da doença. (1)

 

O despertar

A maioria dos pacientes apresentam os sinais e sintomas no início da idade adulta ou no final da adolescência. Um dos traços mais importantes para o diagnóstico é a automutilação, presente em 80% dos casos (2). Os portadores do transtorno costumam cortar-se com lâminas de barbear ou qualquer outro instrumento. Também existem casos de pessoas que se queimam. A automutilação é feita por vários motivos, como expressar raiva, punir-se, distrair-se ou tentar voltar para a realidade.

 

Características

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), uma pessoa com transtorno de personalidade borderline pode apresentar as seguintes características:

– Sentimentos crônicos de vazio

– Instabilidade afetiva

– Episódios muito frequentes de raiva e descontrole emocional

– Brigas físicas recorrentes

– Relações instáveis

– Comportamento de automutilação e suicida

– Tentativas de evitar abandono ou rejeição

– Dissociação

– Variação do humor em curtos espaços de tempo (no máximo horas)

– Pensamento extremista

– Comportamento compulsivo por álcool, drogas, sexo, compras, jogo, etc.

– Sentimento constante de abandono e rejeição

– Distorção da autoimagem, baixa autoestima

 

Fora do próprio corpo

A despersonalização muitas vezes está presente em pessoas com Transtorno de personalidade Borderline. Quando ocorre, a pessoa tem a percepção da realidade alterada, passa a não sentir o próprio corpo, não se reconhece, sente uma sensação de estranheza em relação a si mesma, gerando sentimentos de apatia e irrealidade. A automutilação, nessas condições, serve para o portador sentir que é real.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico do Transtorno de Personalidade Borderline não é simples de ser feito. Várias outras doenças precisam ser descartadas, além do paciente precisar preencher os critérios estabelecidos. O tratamento pode incluir medicamentos e psicoterapia. Em alguns casos, em situação de maior risco, a internação psiquiátrica pode ser recomendada.

Com o passar dos anos, a chance de tentativas de suicídio diminui e o paciente consegue controlar melhor as emoções, desde que faça o acompanhamento médico e psicoterapêutico adequado.

 

Família: apoio fundamental

Conviver com uma pessoa que tem o Transtorno de Personalidade Borderline não é fácil. As mudanças de humor, a raiva e a impulsividade acabam afetando o relacionamento familiar. Por outro lado, o ambiente familiar precisa ser favorável e equilibrado para o sucesso do tratamento. Desta forma, é recomendado que a família também faça acompanhamento psicoterapêutico para aprender a lidar melhor com o paciente.

Como há tendência ao abuso de substâncias como álcool, cigarro e drogas, é interessante que o cuidador fique atento. A rotina precisa ser saudável, incluindo alimentação balanceada, prática de exercícios físicos, acompanhamento médico e psicoterapêutico, além da prática de atividades de lazer. Ter um diário é uma ótima estratégia para os pacientes poderem expressar seus sentimentos.

 

Saiba mais

Garota Interrompida

Nos anos 60, a jovem Susanna vai parar em um hospital psiquiátrico após tentar se matar e é diagnosticada com transtorno de personalidade borderline. O filme é muito interessante, pois mostra outros transtornos mentais e a diferença de comportamentos entre eles, além de retratar muito bem como o portador do transtorno borderline se sente, o que ele pensa e sua relação com o mundo.

http://www.youtube.com/watch?v=9mt3ZDfg6-w

Referências
(1) Ballone GJ, Moura EC – Personalidade Borderline– in. PsiqWeb

(2) http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol26/n4/artigo(195).htm


O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.